Gostava de ter escrito isto...

Um post escrito com um grande par de tomates!

Concordem ou não com o homem (eu nem sempre concordo, nem sempre...), gostem ou não da figura (nem me aquece, nem me arrefece), escreva ele posts ridículos a queixar-se da blogoesfera e tal... mas que é preciso ter um bom par deles para escrever isto nos dias que correm, lá isso é! E eu aplaudo de pé!

E se o Pl@ka falou...tá falado!
Eu li o livro de Carolina Salgado com atenção e não devo ter
sido o único. Pelos vistos, as polícias também o leram. Não vi ainda o filme
feito a partir do livro, em que cada personagem fictícia é colada à personagem
real. O Correio da Manhã fez até uma interessante página central em que para
cada personagem do filme lá estava a figura real, a família Salgado, Pinto da
Costa, o ex-presidente do Conselho de Arbitragem, o vereador de Gondomar que foi
espancado, o major, os advogados, os médicos, os empresários do futebol à volta
do clube, o líder da claque do FCP, Joaquim Oliveira, o patrão da
Olivedesportos, tudo e todos num filme chamado Corrupção. Se os incomoda a
figuração e o retrato não sei, o que sei é que é tudo público e conhecido com
mais ou menos verosimilhança e ficção, e o retrato é aquele. E das duas uma: ou
aquilo é para tomar a sério ou é de faz-de-conta. Parece que é de faz-de-conta.
Eu li o livro de Carolina Salgado com interesse, não pela absoluta veracidade do
que lá vem, que cabe às polícias julgar, não pelos motivos dúbios da autora, não
pela mão que possa haver de outrem na sua execução, mas sim pelo que ele
comporta de descrição perfeita, psicológica, antropológica e sociológica de um
"meio" que muitos conhecem mas preferem ignorar, ou por complacência, ou por
cumplicidade, ou apenas por medo, puro e simples medo. E se o livro de Carolina
Salgado acrescenta o detalhe dos actos individuais vistos de dentro, aquelas
fabulosas histórias dos chocolatinhos aos árbitros, esse mesmo "meio" está
retratado também nas escutas telefónicas do Apito Dourado, nos mil e um
incidentes que envolvem a claque do Futebol Clube do Porto (seria bom conhecer
os relatórios policiais e do SIS sobre a perigosidade desta claque), nas
violências públicas diversas semeadas ao longo dos últimos 20 anos e que só têm
em comum permanecerem impunes. Toda a gente sabe, vem nos jornais, é público,
nada acontece. Há demasiado faz-de-conta para ser natural. Tem que haver
cumplicidades.Os incidentes naquilo que eufemisticamente se tem chamado a "noite
do Porto" não estão longe deste "meio". Muitas personagens são comuns, muitos
sítios são comuns, há fotos e circunstâncias comuns, amizades, companhias, más
companhias, jantares, carros e seguranças. O
relatório
confidencial da PSP sobre a escalada de ajustes de contas entre
grupos violentos que o Correio da Manhã publicou esta semana é um retrato
preocupante não só sobre o que se está a passar, com o seu rasto de
assassinatos, mas também da inacção das autoridades que, sabendo, nada fizeram,
mesmo quando as vítimas as informaram das ameaças de morte, entretanto
executadas sem dificuldade. As testemunhas calam-se com medo. É à luz destes
factos que se devem entender as palavras de Mourinho quando veio ao Porto com
seguranças e, perguntado sobre porque é que o fazia, respondeu: "Quando vou a
Palermo tenho de tomar cuidado." O special one sabia do que estava a
falar.Pode-se dizer que faço uma amálgama indevida entre casos distintos que só
têm em comum a ilegalidade dos actos? Significa isso que eu defendo que há uma
causalidade de mando entre A e B? Só por má-fé e para confundir as coisas é que
tal se pode afirmar. O que eu digo e repito é que há um "meio" muito pouco
saudável no Porto, que se tem vindo a criar nos últimos 20 anos, que goza de
consideráveis cumplicidades e complacências, policiais e políticas, no PS e no
PSD, onde tudo acontece e parece que nada acontece, e que, quando se diz aquilo
que é uma evidência, cai o Carmo e a Trindade.
Devia ter acrescentado
jornalísticas, mas foi esquecimento. Fica aqui rectificado.Não os meto no mesmo
saco de responsabilidades criminosas como é óbvio, não digo que A foi mandante
de B num crime determinado, nem nada que se pareça, nem confundo as
instituições, nem o clube, nem a cidade, com os homens que se servem delas ou do
seu nome. Apenas digo que o "meio" é comum e comunicante e que as sementes de
violência, as protecções e cumplicidades, os serviços e os "servicinhos" não são
estanques. A "noite do Porto" tem o seu dia. E digo mais: para atacar uma coisa
tem de se atacar a outra e é preciso livrar o Porto dessa doença que lavra no
seu seio. Só não vê quem não quer ver ou quem, vendo, tem medo de ver.É um
"meio" que só exista no Porto? Outros "meios" existem em Lisboa, no Algarve, nos
subúrbios de Lisboa, nalguns casos com diferentes níveis de perigosidade e com
outro tipo de ligações políticas, com problemas étnicos diferentes, mas, em
nenhum outro sítio, se associou ao nome da cidade, ou o nome de um clube, a um
mesmo grupo de personagens, a um mesmo milieu, a melhor palavra para designar o
ambiente miasmático em que tudo se passa.Numa também típica reacção "italiana" -
os mafiosos dos Sopranos quando são perseguidos pelos seus crimes respondem que
se trata de uma perseguição aos italo-americanos -, levantam-se vozes indignadas
a defender, imaginem, o Porto e o FCP "nojentamente" atacados por mim. Um deles
escreve que "crimes como estes não são fáceis de explicar, as suas razões
profundas são difíceis de entender. Fácil, fácil, é dizer que a culpa é do FC
Porto", o que como é óbvio ninguém disse, e outro escreve esta pérola: "De
Pacheco Pereira podemos esperar tudo, desde que vivamos na Área Metropolitana do
Porto." As mais sinistras intenções me são atribuídas e as ameaças veladas ou às
claras abundam. As mesmas pessoas que em público dizem que nada disto existe e
que estou a exagerar, dizem-me depois em privado para ter cuidado, muito
cuidado.
Os artigos citados são de David Pontes no Jornal de Notícias e de
Manuel Tavares no Jogo, os dois de 14 de Dezembro de 2007. Ambos se inserem numa
campanha de ódio ad hominem, sendo que a desonestidade e falsidade do primeiro,
escrito por um responsável do jornal de que José Saraiva foi director,
intitulado "As costas largas do FC do Porto", representa uma deturpação
deliberada destinada a acirrar a violência cujos ecos se encontram aqui entre
insultos e apelos à agressão física.Os jornais do Porto e alguns desportivos,
cujo papel na denúncia deste tipo de "meios" é escassa para não dizer nula,
mesmo quando agressões violentas a jornalistas os deveriam ter obrigado a um
sobressalto moral, fazem assim um péssimo serviço à cidade e aos seus valores.
Deveriam lembrar-se do rol das agressões a jornalistas que se estende desde o
final dos anos 80 até aos dias de hoje e em que os jornalistas desportivos têm
um lugar de honra, mas não só. Carlos Pinhão, Eugénio Queirós, João Freitas,
Manuela Freitas, Marinho Neves, Paulo Martins, entre outros, a que se associa
José Saraiva, militante do PS e director durante muitos anos do Jornal de
Notícias, já falecido, conheceram o "meio" na prática.

"20.11.1988 – Em Aveiro, Carlos Pinhão de A BOLA foi
agredido no final de Beira Mar-Fcporto. O MP não acompanhou a queixa por falta
de provas. No mesmo dia, Martins Morim, do mesmo jornal quando abandonava o
estádio foi empurrado por um grupo de indivíduos entre os quais identificou
Tonio Maluco. O guarda Abel disse aos jornalistas que “era melhor do que cair
por uma ribanceira”

5.3.1989 – Eugênio Queirós do Correio da Manhã, foi
violentamente empurrado para fora do corredor de acesso à cabine do Fcporto no
Estádio do Restelo. Apresentou queixa na PJ que acabou arquivada por não
conseguir identificar os agressores

24.9.1989 – João Freitas de A BOLA foi agredido perto dos
balneários das Antas. Foi assistido no Hospital de Santo António e identificou
Virgílio Jesus e um tal Armando entre os agressores. A queixa foi arquivada
porque a testemunha principal o agente da PSP Oliveira Pinto, disse que não se
lembrava nada

4.10.1990 - Manuela Freitas do jornal Publico na véspera
do jogo Portadown-Fcporto, foi ameaçada e insultada no hall do hotel por
integrantes da comitiva portista

24.10.1990 – José Saraiva, chefe da redacção do jornal de
Noticias, foi agredido de madrugada à porta de casa. Não identificou os
ofensores. O JN publicara uma noticia envolvendo Pinto da Costa num caso de
investigação pela PJ de Aveiro

1.9.1992 – Pinto da Costa, o filho e Joaquim Pinheiro
intimidam o jornalista António Paulino e forçam a entrada do Expresso, no Porto,
procurando descobrir quem fora o autor de uma noticia envolvendo Alexandre Pinto
da Costa

11.12.1994 - Marinho Neves da Gazeta dos Desportos, foi
agredido por dois seguranças afectos ao FCPORTO após ter publicado uma
reportagem sobre os meandros da arbitragem. Fez queixa à PJ acompanhada da foto
dos agressores, e apresentou quatro testemunhas que nunca foram ouvidas

10.3.1993 – Paulo Martins da RTP, no final de um jogo nas
Antas, com o Famalicão, foi agredido em directo. Não houve queixa judicial"
(Expresso)

O mais espantoso é que muitos deles nunca apresentaram
queixa, outros nunca souberam o resultado das suas queixas, e mesmo quando as
agressões são públicas, não se passa nada. Nunca se passa nada e nunca ninguém
quer ver. E quando se fala do que está à vista de toda a gente, é uma
conspiração "lisboeta", "benfiquista", contra o Porto, o Norte e o FCP e os
tambores do ressentimento regionalista rufam contra os "mouros". Têm pouca sorte
comigo, porque menos "mouro" que eu é difícil. De poucas coisas gosto mais do
que do Porto, a minha terra. Vou para lá e, ao fim de meio dia, já troco os
"vês" pelos "bês". Os meus lugares são a D. João IV, Santos Pousada, o Padrão, a
Batalha, o jardim de S. Lázaro, o Marquês, o Liceu Alexandre Herculano, os
Leões, o Piolho, a Sé (onde nasci), a Ribeira, a Foz, a Circunvalação, e a
memória, infelizmente só a memória por que o estão a estragar, do Cabedelo visto
do Porto. É lá que quero ter as minhas cinzas deitadas, onde o Douro, o único
rio a sério em Portugal, entra pelo Atlântico, com fúria. E também, imaginem, o
"meu" clube, na forma mínima como me dou com o futebol, é o Futebol Clube do
Porto... Só lá me sinto inteiro, sem heimatlos. E é exactamente por isso que a
doença que grassa já há uns anos na minha terra me preocupa e não me cala. Não
foi "Lisboa" que a inventou, foram portuenses que a fizeram e que a mantêm com
todos os maus argumentos e com a única lógica que conhecem, a do poder e a do
dinheiro, com a mesma dimensão do Bada Bing. Tenho a veleidade de considerar
que, falando desta doença e destes "meios", sirvo melhor a minha terra, o
Porto.

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